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Consigo imaginar as cenas de um corredor da morte. Em cada cela um indivíduo esperando a própria sorte. Cada um deles com uma história diferente, mas o fim igual: uma injeção letal que, em pouco menos de 30 segundos, consegue paralisar as funções vitais.
Primeiro a oxigenação do cérebro é interrompida parcialmente. As referências do real e do que é imaginário começam a se misturar. Não há mais força para ficar de pé. Caído de lado, o aparelho respiratório ainda funciona enquanto as funções renais, intestinais e musculares vão ficando mais fracas. Os pulmões começam a não ter mais força para oxigenar parte alguma do corpo que começa a ficar inerte. O coração, maior músculo em operação, também não resiste a tal 'veneno'sintético aplicado: resistente, ele é o último a aparar.
Para um cachorro é o final da vida. Para nós que, juntos pressionamos o êmbolo da seringa, é o início de mais um questionamento: essa é a melhor forma de lidar com cães supostamente bravos?
Pode parecer um drama de quem vê no sacrifício de um animal um sacrifício desnecessário. Pode ser um final justo para quem por ventura tenha sido atacado pela'fera' que alí precisa ter seus últimos minutos de vida até 'sair de circulação'. Só que é mais do que isso. É a prova de que nós gostamos de brincar de Deus quando criamos raças'supostamente' violentes e depois decidimos interromper o experimento com a dose letal de alguma porcaria injetada no bicho.
Não acredito em seres humanos - racionais - irrecuperáveis. Como posso acreditar que um bicho – irracional - não possa ser direcionado à reabilitação através de adestramento? O caso do cachorro 'Lennox', na Irlanda do Norte, trouxe essa questão à tona deixando essa pergunta: quem é irrecuperável? Nós ou nossos cães?
Diversos sites explicam e compram a briga de Lennox a cada dia: ele vivia em uma residência rodeada por cercas, era castrado, e tinha seguro - item necessário por lá para se ter qualquer bicho. Em 2010 o animal considerado 'tranquilo e amável' por seus donos foi retirado de sua residência para o corredor da morte simplesmente por ser considerado da raça pit-bull sem ao menos ser desta linhagem.
Foi uma denúncia anônima que tirou Lennox dos braços de uma menina deficiente, de 11 anos de idade. Ele servia de companhia, guia e amigo para a filha de um casal que também alega: Lennox era manso e se comportava de forma impecável. Que pai ou mãe deixaria um cão nervoso ao lado de uma criança indefesa, tamanha 'brutalidade' animal?
Na denúncia contra Lennox, a alegação: seria um cachorro, como descrevem na denúncia, capaz de 'arrancar cabeças'. Mas cabeças de quem? Um dos depoimentos considerados determinante foi o de um dos guardas que retirou o cachorro de casa. Ele alega que o animal pulou em cima dele e o 'empurrou' quanto a remoção era feita. Detalhe: se o bicho é tão bravo assim, porque o guarda não foi decapitado pelos 'terríveis dentes anavalhados' deste 'mostro' de quatro patas? Até minha cadela vira-latas, boba e desorientada de tão dócil, age assim tamanho seu pânico simplesmente ao perceber que o funcionário do pet-shop chega para levar a 'mocinha' - do tamanho de um pit-bull - para um saudável banho.
Lennox está atrás das grades há dois anos. No corredor da morte descrito acima, ele espera que sua sentença definitiva seja dada. Ele já não tem mais a mesma pelagem, provavelmente por causa do estresse. Alguém se preocupa com a saúde de um cão que está prestes a ser morto? No caso de Lennox essa espera já dura 2 anos.
A família tentou vários recursos para salvar a vida do seu animal de estimação, que, repito, nunca teve uma ocorrência de fato que resultasse em agressão a humanos. Na internet o caso de Lennox já virou comoção mundial. No Facebook, no Twitter, em vários sites criados com o mesmo propósito: deixar Lennox voltar para casa.
Se você é um daqueles que já foi atacado por um cão, não se sinta aqui desmerecido. Animais são espelhos de seus donos. Proprietários estressados e violentos não produzem para o mundo animais dóceis e carinhosos. Não há jaqueira que produza mangas...
Se você é daqueles que acredita que um animal - que depende de carinho e treino para orientar seus comportamento - é irrecuperável, fico preocupado com seus argumentos para o trato com criminosos, estupradores e assassinos. O 'olho por olho dente por dente' não se discute assim nem para gente, quanto mais para animais.
O ser humano é, sem dúvida alguma, o bicho mais contraditório do mundo.