“Empresa pode perder a posse dos animais, se houve tratamento cruel”, diz promotora
Vania Tuglio fala sobre acusações contra ativistas e defesa jurídica do ato
Cerca de 150 manifestantes invadiram a sede do instituto
Cristiano Novais/Cpn/Estadão Conteúdo
A ação de ativistas que resgatou cães e coelhos do Instituto Royal, na madrugada desta sexta (18), agora enfrenta uma batalha jurídica.
Embora os animais tenham sido encontrados mutilados e cegos, conforme relato dos participantes, a empresa registrou um boletim de ocorrência que os acusa de furto qualificado. Em tese, advogados podem tentar prender as pessoas e reaver os bichos.
Como explica a promotora Vânia Tuglio, que atua no Gecap (Grupo Especial de Combate aos Crimes Ambientais), a experimentação científica em animais é autorizada por lei. Mas há regras rigorosas.
Para ela, se ficar provado que a empresa provocava “crueldade e sofrimento desnecessário”, o Ministério Público pode pedir a perda da posse que a empresa teria sobre os bichos.
— O sofrimento é desnecessário quando há métodos alternativos ao uso ou se ficar provado que o trabalho não tinha aprovação do Consea (Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal) [...] É obrigação deles analisar todos os experimentos e checar se existe no mundo alguma técnica que os substitua. A finalidade é não usar o bicho. O Consea tem ainda que obedecer a convenções internacionais das quais o Brasil seja signatário.
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E o Brasil é signatário da Declaração Universal dos Direitos dos Animais, da Unesco. Lá diz que “todos animais têm direito à vida, nenhum deve ser usado em experiência que lhe cause dor, em qualquer forma de experimentação”.
A Unesco ressalta ainda que “técnicas de substituição devem ser utilizadas e desenvolvidas”.
— Portanto, o uso de animais deve ser exceção, não regra. E só pode ser autorizado pelo Consea se não tem alternativa. Tudo tem que ser analisado.
O furto qualificado, crime do qual a empresa acusa os ativistas, também pode ser questionado.
— Soube que as pessoas estavam acampadas, tinham a informação de que animais seriam mortos e ouviram gritos. Isso tudo, se provado, caracteriza legítima defesa (art. 25 do Código Penal), que prevê não só a defesa de si, como do outro. Neste caso, dos animais.
Ela explica que o conceito de animais é englobado pelo de meio ambiente, um bem que pertence a todos. Todos podem defender.
Quanto à invasão do local, ela também é justificada juridicamente.
— Em flagrante delito, qualquer pessoa pode invadir um lugar, para impedir um crime [...] Teoricamente, os bichos seriam mortos e machucados, o que infringe a lei crimes ambientais no art. 32. Qualquer pessoa poderia entrar lá para salvá-los.
Vania Tuglio, que tem 20 anos de Ministério Público, dedica boa parte de sua atuação na defesa dos que não têm meios para agir.
— Pela lei, o Ministério Público tem essa obrigação. Nós defendemos rios, florestas e também falamos pelos que não têm voz: os animais.
Fonte: R7 Notícias - Publicado neste site em 30/10/2013