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Em 2011, segundo levantamento do CCZ (Centro de Controle de Zoonoses), foram registrados mais de três mil ataques de cães em Campo Grande. O número assustador, que equivale a quase dez casos por dia, pode ser motivado, na opinião do adestrador Fábio Toledo, pelos maus tratos praticados contra esses animais. Mas o profissional ressalta que a agressividade também é comportamento natural de algumas raças.
Neste ano, notícias sobre ataques envolvendo a raça pit bull circularam com frequência e um clima de medo e pavor automaticamente acomete a população. Um dos últimos casos ocorreu em fevereiro na cidade de Corumbá, a 420 km da Capital, e gerou pânico nos moradores. Depois de ser mordida por um pit bull dentro da loja em que trabalhava, uma mulher de 42 anos sofreu fratura exposta e precisou passar por uma cirurgia na mão.
A fama agressiva da raça tem razão, de acordo com Toledo que adestra cães há mais de dez anos. “Por mais que o dono tenha contato diariamente, ainda não se pode confiar no pit bull. Mesmo que as pessoas neguem, esse cão é um animal com instinto agressivo que não tem domínio sobre seu comportamento”, afirma.
O adestrador explica que o treinamento com cães da raça pit bull é complexo. “Muitas vezes nem compensa treiná-los porque são muito impulsivos e geralmente não aceitam comandos. Quando peço, por exemplo, para andar junto, eles não aceitam e sempre puxam a coleira. Os pit bulls têm praticamente seu comando próprio”, ressalta.
Confiar demais no animal pode ser arriscado, alerta o treinador. “Deixar o cão perto de uma criança é perigoso porque se ele ataca tem a capacidade de provocar grandes estragos e até matar”.
Apesar de considerar o instinto agressivo de alguns cães, Fábio deixa claro que muitos dos ataques têm como agressores os animais, até mesmo de pequeno porte e de natureza dócil. “Podemos afirmar que esses ataques são reflexo dos maus tratos sofridos pelos animais. Muitos cães são vítimas da ignorância de seus donos e, em algum momento, podem chegar a um limite que é também agredir”, detalha.
Educação - Para a estudante de Ciências Biológicas Gabrieli de Castro, que integra a ONG Abrigo dos Bichos, não há dúvidas quando se fala desse assunto. Segundo ela, a educação dada ao cão pelo dono é que influencia nas suas reações. “O que provoca a raiva de um animal é o mesmo que provoca no ser humano, independente da raça ou do tamanho”, informa.
Uma mordida, seja de cão ou gato, diz a estudante, é a única forma de defesa do animal. “Eles também se sentem invadidos, maltratados, porém tem os que se sentem acuados, amedrontados, e também os que atacam ferozmente, principalmente os de grande porte”, exemplifica. “É preciso conhecer as necessidades e características do animal e compreendê-lo porque assim não colocamos uma raça na marginalização”, reitera.
O número ostensivo de acidentes envolvendo cães pit bulls levou países como Austrália, Noruega e cidades dos Estados Unidos e do Canadá a banirem a espécie considerada agressiva. No Brasil, alguns estados tomaram medidas para controlar a criação desses animais como proibi-los de frequentar lugares públicos, castração obrigatória e até aplicação de testes psicotécnicos nos donos.
Em Mato Grosso do Sul, uma legislação causou polêmica ao exigir o uso da focinheira e enforcador em locais públicos para os cães das raças Pit Bull, Rottweiler, Doberman, Bull Terrier, Dogo Argentino e Fila Brasileiro. O objetivo, segundo o autor da proposta, deputado Junior Mochi (PMDB), é evitar que os animais façam vítimas durante o passeio.
A lei 3489, que entrou em vigor em 2008, também impede a condução dessas raças por crianças ou adolescentes e prevê cobrança de um seguro obrigatório para cães de médio e grande porte contra danos que eles possam causar.