Quando um cão foi para o laboratório para ser testado, primeiro teve de jogar com duas bolas: uma do tamanho de uma bola de ténis e outra idêntica mas do tamanho de um melão. Em seguida, o cão e respectivo proprietário deixaram a sala, enquanto um investigador preparava a experiência. Quando o cão voltou, sentou-se à frente do dono, que estava com os olhos vendados, para que as reacções não influenciassem o animal de estimação. Uma das bolas estava à esquerda de uma tela à frente do cão, e um dos cientistas, escondido atrás de uma outra tela, lentamente puxou a bola com um fio transparente. À medida que o cão assistia, a bola ia para trás da tela. Em seguida, a bola reapareceu do outro lado. Mas, em alguns casos, foi substituída por outra bola, de modo que parecia ter encolhido ou magicamente crescido.
No geral, os cães olharam mais tempo para a bola quando esta parecia mudar de tamanho. Mas quando Corsin Müller analisou as diferenças de comportamento entre os sexos ficou
“bastante surpreso”, conta. Os machos olharam para a bola a mesma quantidade de tempo, quer esta mudasse ou não de tamanho. Mas as cadelas olharam muito mais tempo para as bolas que mudaram de tamanho (36 segundos, em média), do que para as que ficaram iguais. Segundo Corsin Müller, quando os investigadores de cognição animal reúnem grupos de estudo, podem escapar a este tipo de efeito se não incluírem um número igual de animais machos e fêmeas.
Razão evolutiva
Os machos são mais orientados para tarefas que necessitam do olfacto
Para Corsin Müller e colegas é pouco provável que exista uma razão evolutiva para as fêmeas e os machos terem diferentes capacidades visuais. Mas o psicólogo e especialista em cães Stanley Coren, da Universidade de British Columbia, no Canadá, discorda.
“Sempre que existem diferenças entre os sexos, normalmente há uma razão evolutiva que explica o porquê destas acontecerem”, afirma. De acordo com o especialista, as fêmeas podem ter de recorrer mais à vista para se manterem a par de uma ninhada de cachorros, que praticamente têm o mesmo cheiro. Ou talvez haja algum tipo de benefício para os machos. Estes são mais orientados para o cheiro (as pessoas preferem-nos às fêmeas para tarefas que exigem rastreamento, por exemplo) e por isso prestam menos atenção às diferenças visuais.
Para testar se as fêmeas dependem mais da visão porque precisam de controlar os filhotes, os cientistas poderiam realizar a experiência em cadelas que estão grávidas ou têm novas ninhadas, para ver se estão ainda mais atentas, sugere a psicóloga Emma Collier-Baker, da Universidade de Queensland, na Austrália.
No entanto, Corsin Müller e colegas procuram saber se os cães começam a compreender melhor o espaço se lhes forem dados brinquedos educativos quando têm dois meses de idade. Os resultados podem indicar se as deficiências dos cães na compreensão espacial estão enraizadas ou se resultam do ambiente em que crescem.