Tratamento de leishmaniose em cães com remédio humano é questionado
Medida poderia diminuir a eficiência para os humanos, afirma veterinário.
Tribunal Regional Federal autoriza o tratamento da leishmaniose visceral.
Uma decisão recente da Justiça Federal, que passou a autorizar o tratamento de cachorros com leishmaniose visceral com medicamentos humanos tem causado polêmica entre médicos e protetores de animais. Segundo o veterinário de Araraquara (SP), Tiago de Lia Melo Ferreira, o uso desses remédios pode diminuir a eficiência do tratamento para os humanos. “Existe só um único medicamento que é utilizado em humanos e esse medicamento teria que ser utilizado nos cães também, dessa forma será que não pode criar uma resistência desse medicamento perante o humano?”, questionou.
Segundo Ferreira, falta saber quais os efeitos do remédio nos animais. “Daqui alguns anos a gente vai perder esse medicamento e vai ficar todo mundo sem tratamento”, disse. Em Araraquara, em 2013, foram registrados dois casos de cachorros com leishmaniose e os animais foram sacrificados. Segundo o Ministério da Saúde, a eutanásia deve continuar sendo aplicada nos municípios em que a quantidade de cães contaminados provoquem risco de descontrole da doença.
O ativista Evandro Guideli, voluntário de uma ONG de proteção aos animais, defende o uso de remédios para combater a doença. “O ser humano tem o dever de cuidar dos animais da forma que for possível, através da tecnologia que é desenvolvida hoje”, afirmou.
O secretário municipal do Meio Ambiente, José dos Reis Santos Filho, afirmou que não conhecia nova determinação, mas para ele o tratamento da leishmaniose canina com remédios pode trazer riscos. “Nós vamos precisar manter esse animal de tal maneira isolado, para que nós não criemos nenhuma oportunidade para o mosquito transmissor da doença. Isso embute sempre um risco de contaminação para outros animais e para os seres humanos”, disse.
A doença
Os principais sintomas da Leishmaniose para os cães, transmitida pelo mosquito palha, são o emagrecimento repentino e lesões em várias partes do corpo. O mosquito é encontrado em regiões de mata e na cidade, em regiões periurbanas, principalmente onde há árvores e que as folhas caem no chão e ficam úmidas.
“Esse é um ambiente propício para a proliferação do mosquito transmissor da Leishmaniose, aí esse mosquito pica um animal que está contaminado e passa a transmitir a doença para o ser humano”, explicou a enfermeira Edeltraut Zóia.
Há dois tipos da doença nos seres humanos: a cutânea e a visceral. “A leishmaniose cutânea é caracterizada por úlceras, em formato de crateras de vulcão, na pele. A visceral acomete órgãos internos, principalmente o fígado e o baço, tendo uma complicação mais grave e com risco de morte. Os sintomas são febre, debilidade do organismo e comprometimento do fígado e do baço”, afirmou a enfermeira.