A Associated Press (AP) noticia hoje uma onda de violência que surgiu no país contra os ladrões especializados em roubar cães para vender a mercados e restaurantes para carne. A agência publica a história contada por Nguyen Van Cuong, um residente local que viu o seu cão ser roubado.
Ouviu um vizinho gritar 'Ladrão! Ladrão!' e Cuong correu com ele, em vão, atrás da moto onde viajavam os dois ladrões que agarraram o seu cão 'Black' em andamento. Um dos raptores atirava tijolos à medida que avançava na rua, acabando por acertar na cabeça de um transeunte, matando-o. Estes criminosos usam tudo o que tiverem à mão, incluindo flechas, pra se defenderem dos donos dos cães.
Situações semelhantes têm surgido em todo o país, visto que a polícia pouco faz para perseguir estes raptores, levando a população local a agir de forma independente do sistema judicial. Multidões têm perseguido os ladrões e muitos foram espancados até à morte.
Um cão pode valer um salário
Um cão vivo em Hanói vale cerca de 4,5 euros o quilo, o que significa que um cão de 20 quilos pode ser vendido por mais de 90 euros, o que equivale a um mês de salário médio para um trabalhador vietnamita.
Tran The Thieu, o chefe da polícia da aldeia Hung Dong, na província de Nghe Na no centro do país, explica que 'os ladrões de cães estão cada vez mais agressivos - roubam cães aos aldeões em plena luz do dia'. Thieu confessa que 'as pessoas estão com muita raiva e que os ladrões raramente são presos. A maioria dos donos nem se dá ao trabalho de chamar a polícia.'
O número de restaurantes com carne de cão como especialidade cresceu exponencialmente em Hanói, ao mesmo tempo que o Vietnam se transformou numa das economias de mais rápido crescimento da Ásia. Mas, tal como explica a AP, à media de que a inflação sobe, os vietnamitas inventam formas mais criativas de ganhar dinheiro.
Os cães passeiam livremente, por isso, são alvos fáceis para os ladrões, que muitas vezes os imobilizam atirando objetos pesados, usando armas de arremesso, flechas, ou armas de eletrochoque para atordoar os animais. No sul da província de Soc Trang, dois homens entregaram-se à polícia no dia 26 de setembro por terem morto o dono de um cão enquanto este os presseguia.
Polícia multa ladrões e deixa-os seguir
Em junho passado, um raptor de cães foi perseguido e espancado até a morte por uma multidão que, em seguida, incendiou o seu corpo, deixando os restos carbonizados na beira da estrada como aviso. Sete residentes da aldeia Hung Dong foram feridos noutros incidentes em que perseguiam os ladrões que se defendiam com facas e garrafas partidas.
O tenente-coronel Ho Ba Vo, vice-chefe de investigação na província de Nghe An, diz ao jornal local Thanh Nien que os residentes se queixam que 'a polícia multa estes criminosos e deixa-os seguir. E é verdade. Um ladrão só enfrenta acusações criminais quando a propriedade envolvida vale pelo menos dois milhões de dong (cerca de 72 euros). A maioria dos cães valem muito menos que isso, portanto, o ladrão só enfrenta a multa por tentativa de roubo.'
E este comércio ilegal atravessa fronteiras. A tradição de comer esta carne também é popular em partes da China, da Coreia do Sul e das Filipinas, apesar da resistência dos defensores dos animais. No mês passado, no norte da Tailândia, a polícia prendeu dois homens que tentavam contrabandear 120 cães metidos em sacos. Em agosto, também na Tailândia, 1.800 cães foram encontrados doentes, fechados dentro de jaulas pequenas, dentro de um camião. Foram confiscados mas metade morreu no mesmo dia, segundo a imprensa local.
Animais torturados antes de serem mortos
Os animais são transportados de moto, amontoados em caixas minúsculas. São deixados em jaulas sem condições para o número de animais que suportam. São espancados, alimentados à força, mortos, esfolados e fritos. Podem ser vistos pendurados por fios em mercados com a cauda esticada e os dentes à mostra. Os pratos mais apreciados são grelhados e sopas com pasta de camarão picante. Segundo a AP, a carne de cão tem um sabor e uma textura parecidos com o da carne de veado.
Os vietnamitas têm opiniões opostas sobre os animais de estimação. A maioria cuida dos seus animais mas não ao ponto de os considerarem parte da família, como acontece no ocidente. Mas isso está a mudar. 'É possível testemunhar a convergência de duas tendências,' disse à AP Lucius Robert, fundador da Kairos Coalition, associação que promove o tratamento humano dos animais de estimação.
Cuong, cujo cão 'Black' foi vendido por 34 euros, segundo informou a polícia, estima ter perdido 10 animais para os ladrões especializados e promete que 'se apanho algum, espanco-o'. Questionado pela AP sobre se seria capaz de comer um dos seus cãos, abanou a cabeça negativamente com muita determinação. Mas come carne de cão. 'Se quiser, vou a um restaurante'.