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Pioneiro no Estado, cão Leroy da PM realiza dupla atuação |
Lígia Ligabue |
Um paradigma no treinamentos de cães policiais dizia que um animal adestrado para uma função, nunca conseguiria desempenhar outra. Ou seja, se ele foi treinado para ser de patrulha, não poderia adquirir capacidade para procurar drogas. E foi exatamente esse tabu que foi quebrado no Canil da Polícia Militar (PM) de Bauru. O pastor alemão Leroy, além de atuar muito bem no patrulhamento e na guarda, também se tornou um excelente cão farejador. Além de economizar custos para o Estado, a técnica ainda otimiza o trabalho da PM, que pode contar com um policial “2 e 1” em todas as ocorrências. A subtenente Eliete Aparecida Tavares Ramos, comandante do Canil, destaca que o trabalho desenvolvido em Bauru era considerado até impossível. “Pelas diversidades até da raça do cão. No entanto, pela habilidade demonstrada pelo Leroy e pela técnica do policial adestrador, foi possível ser desenvolvido um método. Ele acreditou e conseguiu”, pontua. O policial que conseguiu superar esse conceito pré-estabelecido foi o soldado Carvalho. Ele revela que após fazer o curso no Canil Central em São Paulo, voltou para Bauru com a ideia de desenvolver um cão com a dupla habilidade. Para isso, procurou um cachorro adequado desde filhote. Leroy chegou à Polícia Militar com 53 dias de vida, e desde o início foi preparo por Carvalho. O policial destaca que o cão precisa ter uma habilidade natural para o trabalho planejado. Mesmo assim, em algumas situações percebe-se durante o adestramento que o cão não é compatível com a ação policial. Quando isso ocorre, ele é dispensado da atividade. Mas Leroy sempre demonstrou um talento natural com seu faro. Faro na patrulha Inicialmente ele foi treinado para ser cão de guarda e patrulha. O trabalho iniciado foi o desenvolvimento da aptidão do animal, e em seguida, a aplicação da técnica policial e a obediência. Nessa fase, o trabalho policial é associado a brincadeiras para que o cão associe o desempenho de suas funções a algo divertido. Carvalho então iniciou a especialização de Leroy em uma segunda função, a de faro. Os cães farejadores podem ser treinados para procurar drogas, explosivos ou para fazer buscas de pessoas, por exemplo, em matas. Como a necessidade da PM em Bauru é maior no combate ao tráfico, Leroy foi adestrado para farejar entorpecentes. “Consegui dividir na cabeça dele as duas funções. Assim, ele sabe exatamente quando deve fazer o trabalho de guarda e patrulha e quando fará o de faro”, afirma o soldado. A troca de funções acontece quando a guia é mudada de lugar. Quando Carvalho prende a guia na coleira no pescoço de Leroy, ele sabe que é o momento de atuar como cão policial em ações de patrulha, como contenção de suspeitos, prevenção em grandes multidões, como estádios de futebol e até em rebeliões de presídios. Já quando a guia é presa junto ao peitoral, é o momento de Leroy sair a campo em busca de entorpecentes. Carvalho pontua que esse processo não foi fácil. Um dos obstáculos superados foi, inclusive, a descrença de alguns de que o trabalho poderia dar certo. “Eu cheguei com técnicas e ideias novas. Muitos desconfiaram que não poderia dar resultado. Mas as suspeitas foram sendo superadas”, afirma. Para isso, ele contou com o apoio da subtenente Eliete. “Fizemos a proposta para o desenvolvimento de um cão de dupla função e ela deu o aval para o trabalho”, conta. Trabalho agilizado O soldado Carvalho observa que um dos objetivos da Polícia Militar em São Paulo é exatamente o adestramento de cães para desempenhar duas funções. Dessa forma, o policial avalia que se economiza em medicamentos e ração, além de agilizar o trabalho. Ele observa que em uma situação de patrulha, se há suspeita de drogas é preciso ir até o Canil, deixar o cão e embarcar na viatura outro que tenha o treinamento de faro. “Com o Leroy, podemos trabalhar nas duas situações. Na minha opinião, isso dá maior agilidade ao trabalho policial”, ressalta. Leroy ainda vai trabalhar mais quatro anos até se aposentar. Porém, daqui a dois anos, Carvalho já precisa começar a preparar seu substituto. Mas o treinamento do novo cão policial não será exatamente o mesmo. “Como cada cão é único, adaptamos a técnica a ele”, afirma. Cachorro começou a trabalhar com 1 ano Já treinado para ser cão de patrulha, Leroy começou a trabalhar com 1 ano de idade. Porém, a primeira ocorrência com drogas aconteceu tempos depois. De acordo com Carvalho, já era final de expediente quando o Canil foi acionado para averiguação de uma suspeita de tráfico. “Era o momento de demonstrar que o trabalho tinha sido positivo, e ele encontrou uma porção de maconha em um ônibus”, relembra o adestrador, soldado Carvalho. A partir de então, Leroy participou de uma série de apreensões. Inclusive uma recente, na qual o entorpecente foi escondido no fundo falso de uma garrafa térmica de café. Em outra ocasião, encontrou entorpecentes no quintal de uma residência no Jardim Bela Vista e também sob um dos móveis da casa. Em Duartina, Leroy localizou droga dentro de um colchão. Questionado se o treinamento em dupla função não acaba comprometendo a eficiência do trabalho do cão em uma ou outra atividade, Carvalho é taxativo. “O Leroy nunca me deixou na mão. Tenho pela confiança no seu trabalho”, garante. |