Getty Images - Convivência com animais reduz o nível do estresse humano
A antiga aliança entre Homo Sapiens e Canis lupus familiaris foi se consolidando ao longo de milênios de anos. As referências dessa relação, ainda que tenham se perdido na poeira do tempo, registram que originariamente o conjunto homem-cão enfrentava inimigos que ficavam 'lá fora', à espreita. Até hoje, é conhecido o adágio popular: 'Fulano entrou em um mato sem cachorro' para expressar a condição de quem se encontra em situação perigosa ou vexatória, o que nos remete à situação de segurança recíproca dessa relação que conferiu ao cão a fama de 'amigo fiel' ou 'o melhor amigo do homem'.
Enfrentando um inimigo interno
Atualmente o clima de competitividade que caracteriza o ambiente corporativo e as relações trabalhistas fez surgir uma espécie de instabilidade da saúde mental denominada Síndrome de Burnout. Segundo Marine Meyer Trinca, psicóloga da Medicina Preventiva do Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE), 'pessoas com a síndrome apresentam sintomas como fadiga, cansaço constante, distúrbios do sono, dores musculares e de cabeça, irritabilidade, alterações de humor e de memória, dificuldade de concentração, falta de apetite, depressão e perda de iniciativa'.
A boa notícia
Recente pesquisa, porém, nos informa que a relação homem-cão tem um efeito positivo no enfrentamento de outro inimigo da raça humana, não se trata, porém. de um perigo externo, à espreita e prestes a atacar, mas do chamado 'mal do século' (depressão).
Pesquisadores liderados pelo Prof. Randolph Barker da University of Virginia (EUA) comprovaram que, conforme estudo publicado em 30 de março de 2012 pelo Journal of Workplace Health Management, a convivência de animais de estimação no ambiente de trabalho provocou a redução do nível de cortisol, (hormônio produzido pela parte superior da glândula supra-renal e intimamente ligado ao sistema emocional), em aproximadamente 30 dos 450 funcionários colaboradores da pesquisa em uma empresa de varejo nos Estados Unidos.
Tais resultados comprovariam a influência positiva da convivência dos animais na redução do nível do estresse humano. Por outro lado, encontra-se comprovada a estreita relação entre o estresse e a depressão (o mal do século). Segundo o Dr. Drauzio Varella , 'neurocientistas proeminentes defendem a teoria de que o mecanismo através do qual o estresse induziria depressão estaria ligado ao hipocampo'.
Convivência terapêutica - verdade ou mito?
Para o Dr. Gabriel Reis, Médico Veterinário formado na UEMA (Universidade Estadual do Maranhão), responsável pela Unidade filial da Prontoclínica Veterinária no bairro do Cohajap em São Luís, capital do estado do Maranhão, as principais razões que explicariam os resultados dessa pesquisa realizada na Universidade de Virginia residem no fato de a presença do cão de estimação remeter ao ambiente familiar e ao salutar clima de uma cumplicidade pré-estabelecida.
Vários fatores devem ser considerados na hora de se decidir pela admissão de um cão no ambiente de trabalho, observa o Dr. Gabriel: 'desde o tipo de atividade da empresa (empresas que trabalham com alimentos como restaurantes, lanchonetes e similares, por exemplo, não seriam recomendáveis tal convivência); se o animal está higienizado e convenientemente educado, além de se considerar o estado de saúde desse animal que deve ser submetido a exames de hemograma e detecção de leishmaniose; pesquisas de hematozoários e carteira de vacinação e vermifugação em dia.
Essas precauções basicamente devem anteceder a uma avaliação veterinária, para que sejam afastadas as possibilidades de transmissão de zoonoses como raiva; toxoplasmose e algumas dermatopatias.
E para os cães, é bom?
Não há dúvidas de que todos esses cuidados valem à pena para o estabelecimento de uma relação mais estreita entre o cão e o seu tutor, tendo em vista que os benefícios dessa proximidade são recíprocos. 'Se é verdade que a presença do cão no ambiente de trabalho reduz os níveis de cortisol comprovando assim sua positiva influência anti-estresse, para o animal a presença constante de seu dono tem efeito relaxante, a solidão é estressante', assevera o Dr. Gabriel Reis.
Aqui, eles são bem vindos
Como já observou o Dr. Gabriel, as características de alguns ambientes de trabalho favorecem a admissão de animais no dia a dia da empresa, enquanto em outros a presença de animais não é bem vinda nem recomendável.
Para Nadja Helena Carvalho Pires, gerente da Loja 2 da rede Petsforfun localizada no condomínio Barramar - Calhau, bairro nobre da capital maranhense, trabalhar ao lado de suas cadelinhas de estimação é uma consequência natural de sua atividade. Ao longo dos 10 anos em que gerencia a referida loja, sempre se fez acompanhar de suas mascotes Sure (uma poodle micro toy ), Nikita e Fefê (ambas da raça Yorkshire terrier ), tendo cada uma, sucedido a outra.
Recorda-se com saudade da Sure, cadelinha rejeitada pela mãe ainda pequenina e que em virtude disso, praticamente cresceu na loja e fazia o maior sucesso quando transitava durante o expediente, vestida e usando seus sapatinhos para cães. Nadja conta que, por causa disso, a cachorrinha acabou sendo responsável pelas vendas de inúmeros exemplares desses sapatinhos.
Apesar de parecer lógico que a administração de uma Petshop admita animais de funcionários no horário de expediente, Nadja declara conhecer gerentes e sócio-proprietários de algumas lojas que não admitem em hipótese alguma tal possibilidade.
A Dra. Rosária de Fátima Almeida Duarte, Juiza de Direito titular da Auditoria da Justiça Militar do Maranhão, que no ambiente familiar é dona do Bob (Labrador) e das cadelas Lilica (Pinscher) e a Poodle Belinha, por sua vez, reconhece a dificuldade de se instituir um Petday no ambiente formal e conservador do Fórum Desembargador Sarney Costa onde a Auditoria Militar encontra-se instalada, em razão não só da ausência de espaço físico apropriado para esses animais, como pela falta de aceitação dos usuários dos serviços judiciais, em geral pessoas predispostas a encontrarem um clima de sisudez característico e até necessário a esses ambientes que em nada remete à presença lúdica que os animais de estimação oferecem.