Um ano de vida dos cachorros não corresponde a sete anos dos humanos, avisam pesquisadores americanos. Após análise genética de ambas as espécies, a equipe criou fórmula que considera mudanças químicas no DNA e deixa os cães mais velhos
Convencionou-se dizer que um ano na vida de um cão corresponde a sete anos de um humano. Porém, em um estudo publicado, neste mês, na revista Cell Systems, cientistas dizem que o cálculo está errado. Para chegar a uma comparação acurada, os pesquisadores criaram uma fórmula mais precisa, com base nas mudanças químicas no DNA à medida que os organismos dos cachorros envelhecem.
Os cães compartilham o mesmo ambiente que seus tutores e recebem quase o mesmo padrão de cuidados de saúde que os humanos, oferecendo uma oportunidade única para os cientistas entenderem o envelhecimento entre as espécies. Assim como os seres humanos, os cachorros seguem trajetórias de desenvolvimento que os tornam mais suscetíveis a doenças relacionadas à idade. No entanto, a maneira como envelhecem em nível molecular é mais complicada — o processo ocorre rapidamente no início e desacelera mais tarde na vida.
“Em termos de quão fisiologicamente maduro um cão de 1 ano de idade é, basta lembrar que uma cadela de 9 meses pode ter filhotes. Imediatamente, se fizer as contas, perceberá que isso não corresponde a apenas sete anos humanos”, diz o autor sênior, Trey Ideker, da Universidade da Califórnia, San Diego. “O que é surpreendente é exatamente quantos anos um cão de 1 ano tem — a idade equivale à de um humano de 30 anos.”
“Rugas”
O DNA humano, que codifica quem somos, não muda muito ao longo da vida, mas as marcas químicas no material genético, chamadas marcas de metilação, alteram-se. Ideker as considera como “rugas” no genoma. “Eu costumo pensar nisso como quando você olha para o rosto de alguém e adivinha a idade dele com base nas rugas, cabelos grisalhos e outras características”, diz.
Os pesquisadores estudaram 104 filhotes de labrador, desde cães de poucas semanas a cachorros de 16 anos, com a ajuda de duas especialistas, Danika Bannasch, da Universidade da Califórnia, e Elaine Ostrander, do National Institutes of Health. Eles compararam as mudanças no padrão de metilação com o dos seres humanos.
A comparação revelou uma nova fórmula, com logaritmo (lg) que melhor combina com os estágios da vida canino-humana: idade humana = 16 ln (idade do cão) + 31. Com base nessa função, um cão de 8 semanas tem aproximadamente a idade de 9 meses de um bebê, ambos estando na fase infantil, em que filhotes e crianças desenvolvem dentes. A vida útil média de 12 anos dos labradores também corresponde à expectativa de vida global dos seres humanos, 70 anos. Em ambas as espécies, os cientistas descobriram que a metilação causada pela idade ocorre em grande parte em genes do desenvolvimento que regulam o crescimento infantil
A metodologia criada pela equipe poderá medir a idade e os estados fisiológicos em diferentes espécies. Quanto aos cachorros, Ideker observa que futuras pesquisas em diferentes raças de cães com expectativa de vida variadas poderiam fornecer mais informações sobre o relógio biológico canino. A fórmula pode não apenas servir como uma ferramenta para entender o envelhecimento entre espécies, mas também aplica-se como prática clínica para os veterinários tomarem medidas proativas no tratamento de animais.
Coloridos há 99 milhões de anos
Um dos problemas enfrentados na paleontologia é a dificuldade identificar cores em fósseis de insetos, informações que podem revelar detalhes sobre o comportamento desses animais. Uma equipe de pesquisa chinesa fugiu à regra e conseguiu observar a coloração em insetos de 99 milhões de anos. O estudo foi publicado na revista especializada Proceedings of the Royal Society B.
Os pesquisadores analisaram 35 peças de âmbar com insetos preservados, retiradas de uma mina no norte de Mianmar, na África do Sul. “O âmbar é do meio do período Cretáceo, com aproximadamente 99 milhões de anos, que remonta à idade de ouro dos dinossauros. É essencialmente resina produzida por árvores (…) que cresceram em um ambiente de floresta tropical. Animais e plantas presos na resina espessa foram preservados, alguns com fidelidade real”, explica, em comunicado, Cai Chenyang, professor-associado do Instituto de Geologia e Paleontologia da Academia Chinesa de Ciências e um dos autores do estudo.
O raro conjunto de fósseis inclui vespas-cuco com cores verde-azulada, verde-amarelada, azul-arroxeada ou verde metálicas na cabeça, no tórax, no abdômen e nas pernas. A maioria dos insetos estava extremamente bem conservada, e suas cores são quase as mesmas das vespas de hoje. Os pesquisadores também descobriram espécimes de besouros azuis e roxos e uma mosca metálica verde-escura. “A preservação da cor nesses espécimes é a mais extraordinária vista até agora”, diz Chenyang.
Para chegar à conclusão, os pesquisadores usaram lâminas de diamante para cortar os exoesqueletos de duas vespas em âmbar coloridas. Usando microscopia eletrônica, observaram que a nanoestrutura inalterada dos insetos sugere que as cores preservadas em âmbar podem ser as mesmas que as exibidas no período Cretáceo. Porém, em fósseis que não preservam a cor, as estruturas estavam seriamente danificadas, explicando assim a aparência marrom-preta.