Aumenta em 70% o abandono de animais durante as férias
Férias e abandono de animais: uma combinação que, apesar de cruel, é mais comum do que se pensa. Nesta época, ONGs e órgãos públicos registram aumento do número de bichos rejeitados entre novembro e fevereiro. No Rio de Janeiro, a Secretaria Municipal de Defesa dos Animais informou que a quantidade de cães e gatos deixados em abrigos triplica durante as férias. Este ano, a média foi de 28 bichos abandonados por mês, entre março e outubro. O número saltou para 95 em novembro. Nos primeiros dez dias de dezembro, já são 49.
Na Suipa, maior ONG de defesa dos animais do Rio, a quantidade de bichos rejeitados cresce 70% nesta época do ano. O mesmo percentual é verificado nos registros da ONG Arca Brasil, de São Paulo. O presidente da entidade, Marco Ciampi, diz que os motivos mais comuns alegados pelas pessoas que pretendem abandonar seus animais são a impossibilidade de cuidados e mudança: 'Os relatos de animais em estado de abandono registrados no nosso site são de pessoas que dizem estar de mudança. Eles nunca falam que é porque vão viajar, mas isso já é um prenúncio do que eles querem, que é viajar sem o animal', diz.
Na França, a prática de descartar animais durante as férias é comum. No país onde metade das famílias tem bichos de estimação, cem mil cães e gatos são abandonados por ano. Milhares são soltos em estradas por pessoas que vão viajar. O assunto já gerou campanhas educativas, com imagens de bichos abandonados espalhadas por estações de metrô de Paris.
No Brasil, protetores de animais se mobilizam para tentar amenizar o problema. Em Curitiba, a Secretaria de Meio Ambiente promove ações de conscientização da população durante as férias. Além de abandonar bichos antes de viajar, os veranistas do Paraná costumam alimentar cães e gatos que vivem nas ruas em cidades do litoral e que depois não têm como sobreviver. Para o secretário de Meio Ambiente de Curitiba, Alexander Biondo, é um abandono de mão dupla: 'O prejuízo é dobrado. As pessoas abandonam os animais nas ruas antes do fim do ano, porque não têm com quem deixá-los. Durante as férias, no litoral do Paraná, eles alimentam cães e gatos locais. Depois que eles vão embora, os bichos acabam morrendo, porque não encontram a comida que era ofertada', lamenta.
Na contramão do movimento de abandono, a professora aposentada Halirane Naves levou para casa em novembro a cadela Lolla, que precisou amputar uma das patas depois de ter sido adotada. Ela conta que procurava um filhote para adotar, mas se encantou com o animal. 'Quando eu a vi sem uma patinha, me tocou o coração. Eu sinto muita raiva de quem fez isso com a Lolla. Eu não gosto de sentir este tipo de sentimento, mas fico com muito ódio de não terem dado assistência para ela. Ela já sofreu o que tinha que sofrer, agora é só amor', afirma.
Apesar do grande número de animais abandonados, é cada vez maior o leque de alternativas para quem deseja viajar com bichos de estimação nas férias. A Associação Brasileira de Hotéis de São Paulo afirma que o número de estabelecimentos do tipo 'pet friendly' aumentou significativamente nos últimos dez anos. Dos 2.500 hotéis paulistas, pelo menos 550 aceitam animais. A maioria são hoteis-fazenda, resorts e pousadas incluídos no chamado 'Roteiro Pet'. O presidente da ABIH paulista, Bruno Omori, diz que o crescimento do mercado reflete a mudança no status dos animais de estimação dentro das famílias: 'No passado, o animal de estimação ficava no quintal e sequer entrava em casa. Hoje, eles ficam dentro dos apartamentos. Alguns dormem até na cama dos donos', lembra.
O ilustrador Carlos Pires faz questão de levar seus cães quando viaja. Ele já se hospedou com seus dois cães em hotéis e pousadas nas cidades de Búzios, Penedo, Petrópolis e Visconde de Mauá, no Rio de Janeiro. 'Geralmente procuro pousadas que deixam os cães ficarem dentro dos quartos, chalés, afinal, eles têm que entrar de férias também'.
Segundo dados da Suipa, o número de adoções ainda está aquém do necessário para retirar todos os animais da situação de abandono: a cada dez cães rejeitados, um encontra um novo dono. No caso dos gatos, a cada 28, um é adotado.