O carinho por Lobinha é tamanho que Samuel enxerga nela um cão com pedigree (Foto: Alexandre Severo/Ed. Globo)
É o caso de Samuel e Lobinha, uma cadela preta que apareceu há cerca de sete meses na Praça Sam Rabinovich, no Bom Retiro. Estava tão desnutrida quando chegou que o morador do local precisou molhar a ração antes de alimentar o animal. Hoje, já forte e saudável, Lobinha virou o xodó do homem de 42 anos. “Ela me dá carinho. Gosta de tomar banho, ontem mesmo eu dei, também não pega pulga nem carrapato”, diz. A cadelinha é tão querida pelos moradores da região que já chegaram a oferecer R$100 por ela. “Não quis vender, me apeguei muito. Ela deve ter pedigree. Queria que fizesse um comercial”, comenta Samuel.
Há cerca de quatro meses, Lobinha entrou no cio e atraiu à praça três machos, que acabaram ficando por lá. O Brisa é branco e preto, tem um quê de dálmata e, segundo o morador, é o “dono do pedaço”. Ele protege a Lobinha quando ela está no cio e, em troca, conquistou o privilégio de ser o único a cruzar com ela. E pelo visto tem dado conta do recado: a cadela já espera filhotes. Os outros são o Costela, seu maior protetor, um cão bege de pêlo mais longo que, de acordo com Samuel, tem mais sensibilidade para descobrir a maldade nas pessoas, e o Alemão, também bege, de pelagem curta e porte menor. Irreverente, Samuel ensinou até inglês aos seus cães: ao invés de chamá-los pelo clássico “vem”, ele usa “come on” e, quando quer que parem, diz “stop”.
No trato com a comida é que a intensidade da relação homem-animal nas ruas fica mais evidente. É comum um mendigo ganhar um pão e, mesmo com fome, dividi-lo com seu cachorro. Samuel conta que, em sua busca diária por algo para comer, seus quatro amigos o ajudam muito. “Eles me avisam qual saco de lixo tem comida, começam a cheirar e a latir”, diz.
'Ele confia em mim'