O tempo do “aprender na pancada” passou, definitivamente. Até mesmo para os cães de proteção, cujo treinamento é apoiado na agilidade e força, a melhor forma de doutrinar é através do carinho e, principalmente, respeito ao animal.
São essas algumas das qualidades que fizeram o trabalho do tcheco Ludek Silhavy, em Bauru desde sexta-feira, referência mundial. O treinador, reconhecido pelo trabalho junto aos exércitos italiano, norte-americano, eslovaco e estoniano, além de condecorações em outros países, nas áreas militar e esportiva, impressionou criadores, adestradores e policiais da cidade, região e até de fora do Estado, durante workshop realizado pelo canil Von Traum.
Esbanjando simpatia e simplicidade, mas com bastante austeridade na hora do trabalho sério, Silhavy - que fala inglês e contou com a ajuda de intérprete da hora dos treinamentos com adestradores e respectivos animais - demonstra técnicas para educação canina de guarda embasadas no incentivo e carinho ao animal.
Silhavy demonstra técnicas para educação canina de guarda embasadas no incentivo e carinho ao animal
Numa das atividades, ontem à tarde, o tradicional ataque contra alvo com manga (proteção de couro apropriada para a mordedura), o treinador fez jus a condição de campeão mundial na categoria IDC, IPO3 (a elite no adestramento canino). Junto aos proprietários ou adestradores de cada animal, ele fez com que cada cão mordesse e soltasse no momento ordenado.
Ao final de cada turno, que mesclava austeridade e carinho, o cão retornava ao canil orgulhoso com a manga na boca - como se fosse um verdadeiro troféu para o cão. “Na verdade é o ‘prêmio’ dele (de cada cachorro). Ao chegar no canil, o animal relaciona o objeto à atividade e associa o treino a prazer”, observa o adestrador Vasni Campos, proprietário do canil.
Sem distinção
Entre uma atividade e outra do seminário internacional (que será encerrado hoje) - apresentado a cerca de 40 criadores e adestradores de Bauru, região, mas também de fora do Estado - o renomado treinador conversou com a equipe do Jornal da Cidade e garantiu: qualquer cão pode aprender e desempenhar funções de proteção, independentemente às características.
Obviamente, salientou o adestrador, existem raças mais adequadas para cada tipo de instrução. No caso do treinamento para a guarda, os cães mais indicados são os pastores, dobermanns e rottweillers. “O ideal é trabalhar com as raças natas para desempenhar a função de cão de proteção, mas todo cachorro pode ser treinado”, assegura o tcheco.
Exemplo do ensino democrático a todos os animais era a presença, entre diversos exemplares de raças propícias a guarda do border collie Fox, de 2 anos, que executou os mesmos comandos obedecidos pelos cães de guarda natos.
Muito inteligentes, cães desta raça, observa a adestradora e proprietária de Fox, Rúbia Salomão Pilan, de Birigui, se adaptam facilmente a qualquer tipo de comando, seja para proteção ou pastoreio, característica nata deste tipo de cachorro. “Ele aprende muito rápido tudo o que a gente ensina”, elogia.
Trabalho tenso
Cães das raças propícias ao treinamento para proteção, apesar das atividades não serem restritas, eram maioria durante o seminário conduzido pelo adestrador da República Tcheca. Entre eles, estavam dois animais que servem as forças de segurança pública do Estado de Minas Gerais.
Com os cães pastores belga de malinois, Spartacus e Áries, os agentes penitenciários mineiros Alexandre Ataíde e Elias da Cruz saíram da região metropolitana de Belo Horizonte para participar do treinamento de ontem, em Bauru. Eles aprovaram o seminário conduzido pelo adestrador internacional. “A distância é grande, mas vale pelo conhecimento”, destaca Elias.
Ambos são adestradores e integram o Grupo de Intervenções Rápidas (GIR) do complexo penitenciário José Maria Alckmin, em Ribeirão das Neves (MG). No trabalho, esse tipo de cão, destacam os agentes, são adequados. “Intervimos em situações tensas, como tiroteios, motins e rebeliões. São cães que se destacam pela agilidade”, elogia o agente.
Para todas as idades
Os pastores malinois de Minas Gerais ainda são “novatos na corporação”. Os filhotes ainda assimilam técnicas para, quando adultos, entrarem com toda a energia no trabalho junto aos agentes de segurança penitenciária da região metropolitana de BH. No entanto, para o aprendizado, não existem restrições.
É o que garante o também adestrador Maurício Simões Nunes, do canil Omniarquiq Kennel, parceiro da iniciativa. “Não tem idade certa”, assegura. “É claro que, o quanto antes melhor”, considera. “Mas nada impede que o cão, já na fase adulta, adquira treinamento, seja para qual for a finalidade”, esclarece Nunes.
Segundo ele, em apenas um ano, o cão adquire conceitos básicos de adestramento. Técnicas tanto de pastoreio quanto proteção, de uma forma mais ampla, observa o adestrador, podem ser assimiladas em dois anos e meio.