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Um estudo da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Unesp de Botucatu (FMVZ) propõe o primeiro teste clínico de rotina para detecção da disfunção cognitiva canina, também conhecida popularmente como “demência dos cães idosos” ou “mal de Alzheimer canino”. A doença se caracteriza por uma intensa desorientação do cão, diminuição da atividade física, alterações em padrão do sono, memória visual, rotinas e hábitos de higiene e até o não reconhecimento dos donos.
O estudo foi orientado pelo médico-veterinário Rogério Martins Amorim, professor da FMVZ, e executado pela então mestranda da Unesp Marta Cristina Thomas Heclker, hoje doutoranda da unidade. A pesquisa contou com financiamento da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).
Uma das motivações dos estudiosos é que a população canina no Brasil tem envelhecido. Há muita controvérsia sobre o início da ‘terceira idade’ dos cães, mas o fato é que os animais de maior porte envelhecem mais rápido e têm menor expectativa de vida. E assim como os humanos, a velhice canina também pode acarretar problemas de memória e aprendizado. “Infelizmente, o serviço de neurologia está muito distante da rotina veterinária”, lamenta Amorim.
No caso da disfunção cognitiva canina, essas alterações são muito intensas, agem no cérebro de forma semelhante ao mal de Alzheimer, diminuindo sensivelmente a qualidade de vida do animal. Amorim explica que há modelos de detecção da doença descritos na literatura, sobretudo por cientistas de universidades de EUA e Canadá. “Mas ainda não há um teste laboratorial adaptado à rotina de atendimento clínico e que seja aplicado como forma de diagnóstico precoce da doença”, diz o professor.
Para preencher essa lacuna, os pesquisadores revisaram a literatura sobre o tema em busca do método mais adequado e, após a análise de seis candidatos, escolheram um teste simples para adaptação e aprimoramento. Ele consiste em um aparelho de madeira que oferece um petisco ao animal sempre que este escolher o objeto correto entre dois – pode ser uma cor específica ou um formato.
O modelo original previa que o cão ficasse preso em uma jaula, o que foi modificado pelos estudiosos. Outra mudança foi descartar a prática privar o cachorro de alimento para que ele fique mais interessado no petisco. Para entender a lógica de um aprendizado, os cães precisam de estímulos reiterados, mas ao iniciar os testes, os cientistas também perceberam que a repetição seria menos necessária do que previa o formato inicial – de cerca de 22 dias, para 5.
“Com essas alterações, chegamos a um método simples que pode ser aplicado à rotina do atendimento veterinário”, afirma Amorim. Ele ressalta que o próximo passo do projeto é validar cientificamente o modelo para que ele passe a ser usado no atendimento clínico do Hospital Veterinário da Unesp de Botucatu.
Células-tronco em cães
Para fins apenas de caracterização do teste, a avaliação foi aplicada em cães adultos sadios, de ambos os sexos e de diferentes portes e raças. Não houve variação significativa entre esses parâmetros. Em dias de chuva, todos os animais foram mal no desafio por apresentar muita agitação e desconcentração, o que pode indicar que o método deva ser aplicado em dias de tempo estável.
Quando validado, o teste deve prever que cachorros que não consigam acertar o objeto a ser tocado entrem para o grupo suspeito de disfunção cognitiva canina e sejam encaminhados para ressonância magnética e outros exames complementares. Isso permitiria o inicio da terapia antes da doença entrar em estágios mais avançados.
Segundo Amorim, as formas de tratamento nesses casos também precisam ser ampliadas. Por isso, Marta pesquisa em seu doutorado o isolamento e cultivo de células-tronco neurais presentes no bulbo olfatório de cães. A expectativa do grupo de pesquisa é que, no futuro, investigações como essa possam levar a terapias mais eficazes para a demência dos cães idosos.