Pesquisa feita em cães auxilia a combater o câncer de mama
Doença nos caninos é tão comum quanto em humanos, dizem os pesquisadores
RONI CARYN RABIN
THE NEW YORK TIMES
NOVA YORK, EUA. Quando uma mulher idosa entregou os dez cães que viviam com ela em um trailer na zona rural de Maryland, nos Estados Unidos, os shih-tzus estavam descabelados, cheios de pulgas e já fazia anos que não tomavam vacinas. Uma fêmea chamada Akyra estava tão mal que os voluntários se negaram a aceitá-la.
Recuperação. Akyra chegou ao hospital onde a pesquisa é feita com câncer em glândulas mamárias e foi curada com o tratamento
Simultâneos. Vários tumores mamários podem aparecer ao mesmo tempo nas cadelas, segundo médicos
Exames ajudam a explicar as causas e tipos de tumores caninos
As glândulas mamárias de Akyra estavam cravejadas de tumores, um deles do tamanho de uma bola de golfe. Seria difícil colocá-la em um lar adotivo, e os tratamentos de que ela precisava seriam muito caros. Afinal, os tumores poderiam ser malignos.
“Quando meu marido me ligou e disse que deixariam um dos cães para trás por conta dos tumores mamários, eu disse: ‘Não vão, não!’”, contou Bekye Eckert, 49, uma apaixonada por cães, que tratou diversos animais com câncer nas glândulas mamárias.
Eckert conseguiu que Akyra fizesse parte de um programa inovador na Universidade da Pensilvânia, onde oncologistas veterinários estão aprendendo sobre a progressão do câncer de mama em humanos através do tratamento dos tumores mamários de cães que vivem em abrigos.
Assim como o câncer de mama nos seres humanos, tumores nas glândulas mamárias estão entre as formas mais corriqueiras de câncer em cadelas. Boa parte dos donos de animais nunca vê esse tipo de câncer, pois ele é raro em animais que são castrados quando ainda são jovens.
O câncer de mama canino reage a muitos dos medicamentos quimioterápicos utilizados nos humanos. Assim como nas pessoas, o risco de tumores aumenta com a idade, embora algumas raças, especialmente de cachorros pequenos, desenvolvam câncer com mais frequência. Uma vez que os cachorros geralmente possuem dez glândulas mamárias e costumam apresentar tumores em várias ao mesmo tempo, os animais representam uma ótima oportunidade de pesquisa.
“Os cachorros nos dão uma resposta possível para a pergunta: o que deu errado em nível molecular?”, afirma Karin Sorenmo, chefe de oncologia médica no Penn Vet’s Ryan Hospital e fundadora do programa de pesquisa sobre o câncer de mama canino na universidade em 2009. “Podemos estudar os tumores benignos e perguntar: o que há de diferente nesse tumor que não muda e não se torna maligno como os demais?”, diz.
Esse campo de pesquisa, conhecido como oncologia comparativa, é usado para aumentar a compreensão da biologia do câncer e adaptar o tratamento dos seres humanos. “Todos os tipos de câncer que ocorrem nos cães, acontecem nos seres humanos, e o contrário também é verdade, na maioria das vezes”, afirmou Chand Khanna, que desenvolveu o programa de oncologia comparativa no Centro de Pesquisa do Câncer, no Instituto Nacional do Câncer. Em geral, dois conjuntos de amostras do tumor são tirados de cada cão, um para o laboratório de patologia, e outro para que Olga Troyanskaya, colaboradora do estudo, realize a análise molecular.
RESULTADO. Para Akyra, as notícias foram ótimas. Ela foi operada, e os veterinários removeram o tumor grande e três lesões menores. O relatório da patologia afirmou que ela estava livre de doenças: nenhum deles era maligno. Ela foi adotada por Beth Gardner, consultora de recolocação profissional em Devon, na Pensilvânia. “Ela é um doce”, afirmou a nova dona. Akyra agora tem a companhia de um shih-tzu mais velho, Peyton.
Aplicação
Prática. A esperança de Olga Troyanskaya é identificar as mudanças na expressão dos genes que expliquem a progressão do câncer e usar a nova compreensão para melhorar diagnóstico e tratamento.
Fonte:
O Tempo - Publicado neste site em 14/06/2014