Cachorro passa por consulta para identificação de catarata no Hospital Veterinário da Unesp de Jaboticabal
Aos 9 anos, Astor passa pela primeira vez na vida por uma consulta oftalmológica. A vermelhidão no olho direito levou o estudante Rodrigo Calminatti Ernesto a procurar um especialista em visão canina. Dessa vez, o diagnóstico do labrador de Ernesto é de uveíte - uma inflamação intraocular - decorrente de outra doença no organismo. Mas a suspeita do dono era que o cão estivesse com catarata.
Foi justamente a catarata que levou um grupo de pesquisadores do departamento de clínica e cirurgia veterinária da Unesp de Jaboticabal (SP) a desenvolver um tratamento que pode ser um passo para o sucesso de cirurgias de catarata em cães com idade avançada. O grupo testa a aplicação de um dispositivo biodegradável nos animais, capaz de liberar anti-inflamatórios nos olhos operados. O procedimento, segundo os médicos-veterinários, dispensa o uso de alguns colírios no processo pós-operatório, o que pode auxiliar numa recuperação mais rápida e diminuir os riscos de inflamação ocular nos cães.
De acordo com o professor do departamento, José Luiz Laus, o procedimento adotado nas cirurgias de catarata em cães é o mesmo utilizado em humanos. A técnica, conhecida como facoemulsificação, consiste na retirada da 'lente' que se forma no cristalino e na aplicação de uma lente acrílica nos olhos do paciente. A grande diferença, no entanto, consiste no processo pós-operatório.
'O olho do cão inflama de 10 a 15 vezes mais que o olho do homem. Essa é a principal razão pela qual ainda não conseguimos o mesmo índice de sucesso que se atinge com o olho humano. Se o olho inflama muito, o pós-operatório fica comprometido', explica.
Para tentar minimizar o problema, os pesquisadores tomaram a iniciativa de implantar um microdispositivo nos olhos do animal. O aparelho, testado e desenvolvido pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), é feito de material biodegradável e absorvido pelo organismo do animal, ao mesmo tempo em que libera anti-inflamatórios dentro do olho do bicho.
'A diferença nessa cirurgia é a implantação desse dispositivo de liberação lenta de anti-inflamatórios. A ideia é verificar se com o dispositivo o resultado do pós-operatório é melhor que no método tradicional, inclusive com a diminuição do uso de alguns colírios. Utilizando o dispositivo, controla-se melhor a inflamação e diminuem-se os efeitos colaterais, o que provavelmente deve trazer um resultado melhor', afirma o cirurgião Tiago Barbalho Lima, doutorando na universidade e autor da pesquisa.