Brasileiros tentam encontrar a raça de cachorro ideal
A paixão por cachorros tem motivado um grupo de criadores brasileiros a criar ou, em alguns casos, resgatar, seu próprio tipo de cão ideal.
O buldogue campeiro, o bullbras e o pastor da Mantiqueira são alguns dos exemplos das tentativas de se estabelecerem novas raças “fabricadas” no Brasil.
Em Avaré, no interior de São Paulo, uma versão brasileira do buldogue está surgindo graças ao trabalho de Wagmar de Souza, idealizador do Projeto BullBras.
Desenvolvidos desde 2006, esses cachorros são de companhia, não latem tanto e não têm problemas de saúde como os do buldogue inglês. Eles terão as cores preta, azul e chocolate.
Souza projetava a nova raça para 2016, mas o bullbras ideal ficará pronto antes, segundo o criador.
O trabalho está na sétima geração e Souza diz que já encontrou alguns exemplares do que ele considera o ideal.
“A ideia básica da raça é ser um cachorro para o futuro”, afirma Souza, que acha que, em alguns anos não haverá mais cães funcionais -aqueles destinados ao trabalho-, só os de companhia.
“Um dos focos é diminuir também os problemas de saúde que os buldogues têm.”
Ao menos dez raças de cachorros diferentes já foram utilizadas no projeto.
Com o auxílio de um programa, Souza faz o mapeamento genético das ninhadas, trabalho que deverá continuar mesmo depois que a raça estiver completamente consolidada no país.
QUASE EXTINTO
Outro trabalho é desenvolvido pelo gaúcho Ralf Schein Bender, 58. Ele é responsável pelo resgate do buldogue campeiro -raça reconhecida em 2001 pela CBKC (Confederação Brasileira de Cinofilia), uma das principais entidades brasileiras de criação de cães.
De porte grande, focinho curto e com a típica cara de mau dos buldogues tradicionais, o campeiro descende de cachorros que foram trazidos ao Brasil no final do século 19 por imigrantes europeus.
Esses cães, conhecidos popularmente como “bordogas”, eram utilizados em fazendas e abatedouros para auxiliar na condução da boiada e até, em casos mais extremos, também para derrubar e dominar os bois.
Na década de 1970, por causa de leis que proibiram o uso de cães em matadouros, os “bordogas” quase desapareceram. Bender, então, passou a visitar propriedades rurais gaúchas para resgatar o cachorro que o fascinava.
“Morava perto de abatedouros e gostava de ver os cachorros trabalharem”, diz.
Foram feitos acasalamentos entre os melhores machos e fêmeas resgatados para se conservar as características mais desejadas nestes buldogues: além do corpo largo, forte e da cara achatada, um animal de temperamento calmo, fiel e versátil.
Posteriormente, também foram feitos acasalamentos do novo campeiro com buldogues ingleses e old english buldogues, para ampliar as linhas de sangue.
“O campeiro é como bóxer, só que mais forte e maior”, afirma Fernando Starling, proprietário do canil Molosso di Jerivá, que desde 2001 cria buldogues em Brasília.
CAIPIRA
A outra raça que os criadores tem buscado melhorar é a do pastor da Mantiqueira. Parecidos com o pastor-alemão, são chamados de “policialzinho caipira”.
O cão é utilizado em fazendas da serra da Mantiqueira (na divisa entre Minas, São Paulo e Rio) para auxiliar na lida com bois -função para a qual foi selecionado por quase um século. A raça se formou graças à seleção de fazendeiros, que buscavam um cão resistente.